sexta-feira, 30 de março de 2012

Idéias

Estado e laicismo

Publicado no Caderno Opinião do jornal Diário do Nordeste em 25 de março de 2008.O sábio Natan questiona se por acaso não somos homens, antes de judeus, muçulmanos ou cristãos. Tal pode se traduzir em um clamor social pela separação das forças públicas e religiosas para a viabilização de qualquer Estado moderno. Segundo Pierre Bayle, um bom cidadão ou um bom governante não tem que ser cristão nem adotar a expressão pública das crenças religiosas.O ateu pode ter um comportamento ético-social superior à prática de muitos crentes. A utilização política das religiões tem sido, historicamente, fonte de violência, fanatismo e guerra. Há um elemento constitutivo das religiões monoteístas que torna difícil o respeito e a tolerância às demais religiões e crenças. Estados, nos quais pensamentos religiosos ou valores escolhidos buscam o domínio do ideário e da existência de todos, pressupõem a prática de atos de base moral personalista em detrimento daqueles oriundos de princípios democráticos. Observam-se na busca da verdade, do bem viver e na defesa da justiça, da liberdade e dos direitos humanos, idiossincrasias de sociedades desenvolvidas e laicas. Mas tal privilégio não deve ficar circunscrito a poucas nações, pois diferentes povos têm, igualmente, lutado por liberdade e justiça. Parte dessa luta se define como a busca da consolidação de Estados laicos que atualizem as demandas de seus cidadãos.A utilização política das religiões tem sido historicamente fonte de violência, fanatismo e guerra. No fundo, há um elemento constitutivo de todas as religiões monoteístas que torna difícil o respeito e a tolerância das demais religiões e crenças. Se cada religião monoteísta, cada religião do Livro (cristianismo, islamismo e judaísmo) se apresenta como a única possuidora da Verdade em questões morais e de formas de vida, é impossível que não surjam conflitos entre elas.Por tudo isso, a laicidade e o laicismo podem se apresentar no mundo atual como uma ponte de diálogo entre as culturas e as religiões, já que promovem a tolerância das diferentes culturas e o respeito a todos os estilos de vida desde que não atentem contra os direitos humanos.ANTONIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ Psicólogo e professor


quarta-feira, 28 de março de 2012

Ventos do leste

Publicado no CadernoOpinião do DN em 15 de novembro de 2009.


IDÉIAS

O futuro de uma disciplina é incerto. Isso também diz respeito à Psicologia. Certo é apenas que a todos os psicólogos interessa saber o porvir de sua disciplina, que há muito tempo vem sendo considerada a “ciência do futuro”. Os perigos que a humanidade enfrenta nesse século são objeto de estudo da psicologia e demandam mais cientificidade dessa ciência e uma maior ênfase em sua relevância social. Os problemas humanos são internacionais mas a Psicologia, nos moldes em que a conhecemos, limitou-se a crescer no Ocidente. Desconhecemos ou damos pouca importância ao que se faz nessa área noutras regiões do planeta. Apesar da grande contribuição de nomes oriundos de países como a Rússia, a antiga Alemanha Oriental, a República Tcheca ou a Hungria, pouco nos remete a essas regiões, quando se fala da Psicologia de hoje. Visando contribuir para mudanças de paradigma e buscando uma efetiva aproximação dos psicólogos, a Associação de Psicologia da Bulgária realizou o Congresso Internacional de Psicologia do Leste Europeu na cidade de Sofia neste mes de novembro de 2009. Na ocasião se testemunhou uma ampla produção científica em Psicologia no âmbito de países que formam o bloco de novos integrantes da União Europeia. O Congresso teve como objetivo principal apresentar um retrato da atualidade psicológica, das necessidades e das conquistas na região além do espírito de colaboração dos profissionais do leste europeu para com seus pares ao redor do mundo. Tudo isso com o claro intuito de superar um isolamento acadêmico histórico e indesejável, que já não faz mais sentido na atualidade. Psicólogos representantes das mais diversas nações se encontraram na Universidade de Sofia para compartilhar seus conhecimentos acadêmicos e profissionais e buscar novas formas de interação, antes não imaginadas por aqueles povos do Leste. Tendo em vista a farta produção científica em jogo, observou-se que a Psicologia da Europa Oriental continua sem receber, no Ocidente, a merecida consideração. Concluiu-se na ocasião, que o desenvolvimento da psicologia acadêmica e profissional na Europa e no mundo deve seguir sua característica de diversidade, mas não poderá continuar ignorando ideias e conhecimentos desenvolvidos pelos colegas psicólogos do Leste europeu.


ANTONIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ - Psicólogo

A guerra justa

Publicado no CadernoOpinião do DN em 20 de novembro de 2011.

IDÉIAS


No congresso virtual intitulado A nova face da guerra (The Changing Face of War), que ocorreu entre os dias 14 e 20 de novembro de 2011, vários estudiosos abordam esse tema nas suas mais diversas perspectivas, formas e influências no mundo hodierno. A discussão sobre a possibilidade da existência de uma guerra que seja considerada justa ocupou um significativo espaço na sua programação. Tomando por base as ideias de Noam Chomsky sobre o tema fica fácil contra-argumentar autores como Michael Walzer e seu famoso livro guerra justa e injusta, no qual se constata uma falta de argumentos reais e sólidos para apoiar a ideia e o conceito de guerra justa que defende. Ao se tratar determinadas intervenções bélicas, fala-se também de outro conceito semelhante, nomeadamente, o de guerra preventiva. Como ocorreu no Afeganistão, na guerra do Iraque encontramos a falsa ideia de prevenção, quando o objetivo real dos invasores era manter o domínio do mundo pela força. Naquela altura, o governo estadunidense usou o Iraque como um ensaio para deixar claro ao mundo que suas intenções de domínio deveriam ser levadas a sério. O então presidente Bush pretendia usar quais fossem os meios para assegurar seu domínio sobre o mundo numa espécie de reinado supremo, e para fazê-lo, permanentemente, removeria qualquer desafio potencial que percebesse. Isso é o coração da doutrina da guerra preventiva, que não se distancia daquela da guerra justa (Chomsky, 2007). Enfim, observa-se que não é fácil encontrar argumentos convincentes e sérios para apoiar a guerra justa. Alguns deles não passam de opiniões pessoais, expressões de crenças ou imposições ideológicas e falaciosas. Comungando com o pensamento de Chomsky, o cientista social e crítico político mais atuante nos dias de hoje, diríamos acerca das afirmações de apoiadores da legitimidade da guerra justa, que lhes faltam argumentos sérios e fundamentados. Eles defendem o conceito tomando, por exemplo, casos como o do Afeganistão, como se tal representasse um triunfo da guerra justa, o que de fato e até o momento não se pode comprovar. Vê-se nesses discursos apenas o desejo de se converter a teoria da guerra justa em uma forma apologética para aquilo que favorece a prática de atrocidades de um Estado sobre outro.


ANTONIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ - Psicólogo