quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Psicologia e Economia

Fortaleza, 22/02/2012

Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá


        Estudos que buscam associar psicologia e economia têm sido uma constante
no meio “psi” dos últimos tempos. Tais tentativas encontram cada vez mais espaço
nas nomeadas áreas fronteiriças da psicologia social, organizacional e política.
Pesquisas dessa natureza remontam ao início do século passado, a exemplo do
livro do economista francês G. Tarde, datado de 1902, intitulado Psychologie
economique.  Neste trabalho são abordados aspectos relativos às condições sociais e à
inclusão de interações sociais na busca de melhor compreender o próprio “fenômeno
econômico”, aproximando-o, assim, do que hoje se faz na psicologia econômica.
           H. Münsterberg, discípulo de Wundt (considerado o pai da psicologia
moderna), desenvolveu em 1912 na cidade de Leipzig, Alemanha, um modelo
empírico-experimental de psicologia econômica com pontos que podemos relacionar
àqueles explorados por Daniel Kahneman, psicólogo israelo-americano, ganhador do
Prêmio Nobel de Economia, em 2002. A Real Academia Sueca de Ciências indicou o
psicólogo pela integração da pesquisa psicológica na análise econômica, o que
constitui a base de um novo domínio de pesquisa. Kahneman, 68 anos, mostrou como
as decisões das pessoas podem ser freqüentemente diferentes das previsões apontadas
pela economia tradicional, influenciando vários pesquisadores nas áreas da economia
e finanças. Para Daniel Kahneman, a psicologia econômica, principalmente a
desenvolvida na Europa, critica, em regra, a visão de que o comportamento
econômico está baseado em escolhas objetivamente racionais, onde prevalece a idéia
de que há meios universalmente otimizados de se comprar e negociar.
        No contexto acadêmico europeu atual, vê-se uma considerável soma de
trabalhos que têm grande familiaridade com essa matéria. O professor G. Wiswede
editou em 1991 na Alemanha um livro sobre o assunto intitulado Introdução à
Psicologia Econômica. Para o autor, existe, por um lado, a tentativa de se inserir
construtos psicológicos em expressões e teses econômicas, acrescentando-lhes
elementos novos a sua compreensão. Por outro lado, há tentativas mais ousadas que
buscam elaborar conceitos fundamentais a partir de pesquisas sistemáticas, criando-se
um campo fértil para o desenvolvimento teórico e prático de uma psicologia
econômica enquanto ciência diferenciada.
        Apesar de sabermos que a vida comercial e a econômica não se guiam
somente por fatores racionais e econômicos tradicionais, tendo em vista a inegável
presença de “fatores psicológicos” em sua condução, reserva-se, quase sempre, uma
limitada psicologia do cotidiano para abordá-las. Daí porque o despertar de
economistas e psicólogos para a existência dessa interface entre as duas ciências ser
considerado imprescindível para elevar o “homem econômico” tradicional ao status
de “homem psicológico econômico”, dando ao tema sua dimensão necessária, como o
fez Kahneman com sua premiada economia comportamental.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

BRIC e a Índia

Publicado no CadernoOpinião do DN em 03 de março de 2008.

IDÉIAS



Há cinco anos se cunhava uma nova sigla para designar um grupo de nações semelhantes em suas perspectivas econômicas futuras. Surgia uma elite entre os países emergentes forma da pelo Brasil, Rússia, Índia e China, o BRIC. Demografia, potencial de mercado e outros fatores justificam o tratamento especial ao grupo.Trata-se de um mercado que soma cerca de 800 milhões novos consumidores e um potencial para competir com outros grupos econômicos. Não há, contudo, características culturais tão comuns a essas quatro nações. 

Horizontes distintos e sérias restrições internas a um projeto aglutinador de tal magnitude podem dificultar o projeto. Mas ainda que os países do BRIC não cheguem a atender às expectivas de formar um ambiente favorável a novas estratégias de expansão, um processo já foi desencadeado nessa direção e exerce sobre seus habitantes efeitos que transcendem às mudanças econômicas previstas. O BRIC continua sendo uma união artificial por serem seus membros países continentais periféricos ao sistema econômico mundial e demonstrarem um desejo de aproximação limitado.

Nessa direção se observam apenas movimentos modestos entre os vizinhos Rússia e China ou iniciativas diplomáticas que incluem a Índia e mais timidamente o Brasil. A Índia, o mais diferenciado do grupo em termos de cultura e religiosidade, foi visto por um longo tempo como incapaz de absorver avanços econômicos nos moldes ocidentais. País marcado por profundas desigualdades sociais e uma cultura ancestral de difícil penetração por valores capitalistas, provoca questionamentos sobre o benefício social de sua acelerada política neo-liberal e globalização. Mas, pelo menos no caso indiano, ainda se identificam certo investimento e respeito a pequenas comunidades produtivas, organizações comuns durante o movimento de luta pela independência do império britânico. Vale questionar se, na Índia ou noutros países do bloco, tais políticas  ́culturalmente corretas ́ ocorrem em respeito às comunidades locais, ou se se trata de mais uma estratégia de combate a eventuais resistências a projetos políticos dominantes.


ANTONIO CAUBI RIBEIRO TUPINAMBÁ - Psicólogo