terça-feira, 26 de outubro de 2010

Apontamentos sobre o 47. Congresso da Sociedade Alemã de Psicologia

Apontamentos sobre o 47. Congresso da Sociedade Alemã de Psicologia
Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá
Professor visitante (2010-2011). Universidade de Lüneburg (Alemanha)

Outubro de 2010.

Um território para discutir dois anos de produção científica no âmbito da Psicologia em países de fala alemã. Contudo, não se excluem outros países dessa discussão. Apesar de se saber que o futuro de uma disciplina como a Psicologia é incerto, vê-se na abrangência dos estudos que compõem o congresso, uma busca contínua e permanente para sua sólida construção.
Todas as contribuições para o enriquecimento da Psicologia alemã e a partir da própria Psicologia alemã em direção às demais culturas encontram eco e são bem-vindas nesse território psi. Território que se denomina Congresso da Sociedade Alemã de Psicologia e que acontece bianualmente, no qual há espaço para um resposta ofensiva às exigências sociais face à Psicologia. Isso se constata nos fundamentos e nas aplicações das competências psicológicas genuínas trazidas pelos múltiplos trabalhos.
Não podemos esquecer que a Psicologia deve seu nome aos gregos, mas o seu nascimento científico, aos alemães. Sua mais importante corrente teórica, a psicanálise, também se originou no mundo germânico. A Psicologia tem hoje, no seu país de nascimento, um largo espaço de desenvolvimento, no qual se encontram temas e recursos versados ao enfrentamento dos desafios da vida cotidiana. Não foi difícil testemunhar essas tendências nesse 47. Congresso da Sociedade Alemã de Psicologia, que aconteceu no mês de setembro de 2010 na cidade de Bremen. O nomeado congresso reuniu cerca de 2.000 trabalhos, em sua maioria desenvolvidos no âmbito da própria realidade alemã ou em países de língua alemã, a exemplo da Áustria e da Suíça. Praticamente todas as principais áreas da Psicologia moderna foram representadas por meio dos trabalhos expostos, estando a área da Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) em especial relevo, uma tendência que também pode ser observada em outros países, inclusive no Brasil. Vale a pena ressaltar o impacto e a transversalidade de temas acerca de recursos virtuais e da internet nas diferentes áreas abordadas durante o congresso, especialmente no âmbito da formação e da educação de jovens. Pesquisas sobre o assunto buscam desvendar os mistérios da relação de jovens com esses meios e suas consequências para a formação do caráter. A idéia da mídia virtual como recurso passivo e de pouca contribuição para o desenvolvimento humano em comparação com experiências cotidianas no “mundo real” vem sendo revista e reavaliada. Os recursos e os efeitos da experimentação, da construção da autoimagem, das realizações pessoais simbólicas por meio da mídia virtual encontram defensores e argumentos científicos antes restritos aos relacionamentos sociais e interpessoais concretos. Facebook, MySpace, Orkut e outros networks exigem, segundo esses estudiosos, uma participação que nada tem a ver com a passividade característica de meios audiovisuais tradicionais. Nessas redes os jovens seriam convocados a criar seus perfis, contar diferentes histórias, construir cenários e participar de outras atividades sociais relevantes para o processo de amadurecimento e para ajudar no enfrentamento de dificuldades de exposição, comuns a membros desses grupos e nessa idade. O lado problemático dos cybers espaços não é ignorado por esses estudiosos. Uma vez se tratar de um espaço imaterial dentro da realidade vivida no mundo concreto, não se pode negar suas armadilhas e seus riscos. Armadilhas e riscos semelhantes àqueles que oferecem a vida real. Dada a sua importância e atualidade, o tema seguramente ocupará ainda por muito tempo a Psicologia e os psicólogos em suas diferentes áreas e perspectivas.